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Quando a esperança brota da ciência: o papel da cannabis medicinal no cuidado com a dor crônica

  • Foto do escritor: Gabriel Drumond
    Gabriel Drumond
  • 6 de jul.
  • 3 min de leitura

🖋️ Por Gabriel Drumond Ferreira

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Nos últimos anos, a cannabis medicinal tem voltado ao centro dos debates — cercada de polêmicas, receios e, felizmente, cada vez mais evidência científica. Para quem trabalha com dor crônica, é impossível ignorar o número crescente de pacientes que chegam aos consultórios exaustos, frustrados e buscando alternativas que realmente funcionem.

Em paralelo, vemos crescer o número de estudos, regulamentações e prescrições, mostrando que não se trata mais de um tabu, mas de uma planta com potencial terapêutico real quando usada de forma segura, legal e orientada.


Entendendo como nosso corpo reage à cannabis medicinal

Nosso corpo tem um sistema chamado endocanabinoide, responsável por regular funções como dor, sono, humor, apetite e inflamação. Os compostos da cannabis (como o THC e o CBD) atuam justamente nesse sistema, ajudando a modular a percepção da dor, o que pode ser especialmente útil em quadros crônicos e complexos.

Ao contrário dos analgésicos convencionais, que muitas vezes atuam apenas mascarando a dor, os canabinoides têm a capacidade de regular circuitos neuronais desorganizados, além de reduzir a sensibilização central, que é uma das causas da perpetuação da dor.


O que diz a ciência sobre dor crônica

Estudos recentes têm reforçado a eficácia da cannabis medicinal em quadros como dor neuropática, fibromialgia, dor oncológica e até síndrome da dor regional complexa. Um estudo canadense publicado no Pain (2021) demonstrou que o uso de extratos ricos em CBD reduziu significativamente a intensidade da dor e melhorou a qualidade do sono em pacientes com dor crônica sem causar efeitos colaterais relevantes.

Outro dado relevante vem de uma revisão publicada no Journal of Pain (2020), mostrando que os pacientes que usam cannabis medicinal relatam uma redução de até 30% na intensidade da dor, com menor uso de opioides e melhora da qualidade de vida.

Esses dados não significam que a cannabis funcione para todos, nem que deva ser usada como primeira linha. Mas mostram que, quando bem indicada e monitorada, ela pode ser uma aliada importante no tratamento da dor.


Preconceito ainda é um obstáculo

Mesmo com evidências sólidas, muitos pacientes enfrentam o preconceito estrutural — de profissionais, instituições e até de familiares — ao falarem sobre o uso medicinal da cannabis. É como se o histórico de uso recreativo da planta ofuscasse tudo o que a ciência moderna já comprovou.

Mas a medicina evolui, e a ética do cuidado exige atualização constante. Assim como já superamos tabus em torno da morfina, da cetamina e de tantos outros medicamentos, também é hora de olhar para a cannabis com os olhos da ciência e do cuidado integral.


Uma medicina que cuida, não que julga

Como médico, meu compromisso é com aquilo que alivia o sofrimento e melhora a vida das pessoas. A cannabis não é uma solução mágica, mas pode ser — para muitos — uma nova chance de viver com menos dor, mais dignidade e mais autonomia.

Por isso, é fundamental que a conversa continue. Que os pacientes sejam acolhidos com escuta, orientação e informação clara. E que possamos, juntos, construir uma medicina mais aberta, mais humana e menos punitiva.


📚 Referências

  • Häuser, W., Petzke, F., Fitzcharles, M.A. (2018). Efficacy, tolerability and safety of cannabis-based medicines for chronic pain management – An overview of systematic reviews. European Journal of Pain, 22(3), pp.455–470. https://doi.org/10.1002/ejp.1118

  • Lynch, M.E., Ware, M.A. (2015). Cannabinoids for the treatment of chronic non-cancer pain: an updated systematic review of randomized controlled trials. Journal of Neuroimmune Pharmacology, 10(2), pp.293–301. https://doi.org/10.1007/s11481-015-9600-6

  • Ware, M.A., Wang, T., Shapiro, S., Collet, J.P. (2015). Cannabis for the Management of Pain: Assessment of Safety Study (COMPASS). Journal of Pain, 16(12), pp.1233–1242. https://doi.org/10.1016/j.jpain.2015.07.014

  • Vučković, S., Srebro, D., Vujović, K.S., Vučetić, Č., Prostran, M. (2018). Cannabinoids and pain: New insights from old molecules. Frontiers in Pharmacology, 9, 1259. https://doi.org/10.3389/fphar.2018.01259

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